Dream House ( A Casa dos Sonhos ) 2011

Ver um filme como ‘Dream House’ é constrangedor. Os sinais estavam todos lá: o filme estreou em simultâneo em diversos mercados quase sem apresentações de imprensa, facto que só acontece quando o distribuidor tem muito pouca fé no que está a vender. O realizador Jim Sheridan e os actores Daniel Craig e Rachel Weisz recusaram-se a promover o filme por discordarem do que foi feito dele na pós-produção. E a verdade é que o desesperado trailer do filme que surgiu à boca da antestreia parecia querer contá-lo de uma ponta à outra de forma a convencer os poucos interessados em ir vê-lo.
No entanto, há casos onde filmes caóticos e desorganizados como esses conseguem ter mérito por si mesmo. ‘Wolfman’ do ano passado foi lançado sem qualquer tipo de ‘preview’ dado que poucos dias antes ainda andavam a decidir como editar algo tão complicado: no entanto, é visível nesse caso o potencial do projecto e inúmeros momentos com qualidade artística e narrativa. Algo semelhante passou-se com ‘The Invasion’, quarta encarnação do mito ‘Body Snatchers’ que há largos anos atrás saiu num ‘cut’ feito em salas de reuniões.
Mas no caso de ‘Dream House’ não consigo descortinar o filme que Sheridan, Craig e Weisz estavam a tentar defender de alterações. A sua história é banal e previsível. A sua qualidade artística é débil, no mínimo: Craig, Weisz e Naomi Watts estão apáticos e desinspirados e Sheridan faz um trabalho muito pouco criativo atrás das câmaras.
No filme seguimos como Will Antenton muda-se com a sua mulher e as duas filhas para uma casa nos subúrbios para se dedicar à escrita. Mas depressa ele percebe que a casa está assombrada por algo que se passou anos antes. Esta premissa é comum a dezenas de filmes, de ‘Hide & Seek’ a ‘The Others’, de ‘Skeleton Key’ a ‘What Lies Beneath’. No entanto, o empréstimo mais evidente do filme é talvez a ‘Shutter Island’.
É que ‘DreamHouse’ é um ‘thriller’ vulgar sem grande ambição. O lado mentiroso dos produtores aparentemente foi disfarçarem-no de filme de fantasmas e de terror: coisa que ele não é. As sequências de fantasia que vemos no trailer e a cena das meninas encostadas à parede (que faz o poster) surgem pontualmente e quase sem contexto no filme. Isto força-o a ser grosseiramente incoerente nos seus conceitos: no final, ‘DreamHouse’ confunde as regras de alucinações com as de fantasmas criando alguns momentos absurdos.
No entanto, se o ‘trailer’ do filme desvenda quase tudo, ele é hábil em esconder a maior falha deste: as suas revelações finais. Os últimos vinte minutos do filme são patetas, mal actuados e caem no ridículo pelo “downsizing” que representam narrativamente. O que seria um vulgar cenário de fantasmas dá lugar a um vulgar cenário de ‘thriller’ domingueiro. Dois momentos do filme são particularmente infelizes, por envolverem apontamentos de mau gosto que surgem de forma rude numa narrativa tão trivial.
Para quem mesmo assim queira ver o filme, apenas um conselho: evitem ver o trailer ou algum elemento da sua mentirosa campanha de marketing, para que pelo menos vejam o filme com algumas surpresas à mistura.
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